Thursday, September 30, 2010

O Martins levantou-se cedo

A medidazita que faltou
por FERREIRA FERNANDES - DN 2010-09-30
Ele é vogal de uma dessas entidades reguladoras portuguesas - insisto, não é ministro de país rico, é um vogal de entidade reguladora de país pobre - e foi de Lisboa ao Porto a uma reunião. Foi de avião, o que nem me parece um exagero, embora seja pago pelos meus impostos. Se ele tem uma função pública é bom que gaste o que é eficaz para a exercer bem: ir de avião é rápido e pode ser económico. Chegado ao Aeroporto de Sá Carneiro, o homem telefonou: "Onde está, sr. Martins?" O Martins é o motorista, saiu mais cedo de Lisboa para estar a horas em Pedras Rubras. O vogal da entidade reguladora não suporta a auto-estrada A1. O Martins foi levar o senhor doutor à reunião, esperou por ele, levou-o às compras porque a Baixa portuense é complicada, e foi depositá-lo de volta a Pedras Rubras. O Martins e o nosso carro regressaram pela auto-estrada a Lisboa. O vogal fez contas pelo relógio e concluiu que o Martins não estaria a tempo na Portela. Encolheu os ombros e regressou a casa de táxi, o que também detestava, mas há dias em que se tem de fazer sacrifícios. Na sua crónica nesta edição do DN, o meu camarada Jorge Fiel diz que o Estado tem 28 793 automóveis. Nunca perceberei por que razão os políticos não sabem apresentar medidas duras. Sócrates, ontem, ter-me-ia convencido se tivesse também anunciado que o Estado passou a ter 28 792 automóveis.

Friday, September 17, 2010

Uma Delícia

Fugir prà frente à moda de Madaíl
por FERREIRA FERNANDES - DN 2010-09-17
Receita. Pegue num incompetente. Depois de ele ser incompetente, elogie-o. Depois de elogiar o incompetente, despeça-o por uma razão qualquer (por dizer palavrões ou por se bronzear com lâmpadas ultravioletas, tanto dá). Até agora a receita é vulgar, de prato menor. A seguir é que vem a haute cuisine. Embarque para uma capital europeia, não sem antes apregoar: "Vou contratar o Ferran Adrià, o alquimista das cozinhas." Mas ele não está no El Bulli? Espante o povo: "Aí é que está: contrato-o só para fazer dois jantares!" Só para dois jantares? "Nem isso, ele não precisa de entrar na cozinha. Faz o menu por telefone." Sente-se com o Ferran Adrià por longas horas, para que a notícia do encontro se espalhe. Deixe que façam o refogado do acontecimento: diz-se que o sonho do Adrià era acabar a carreira, um dia, a fritar sardinhas, e se ele já disse que está disposto, porque não agora? Polvilhe com cepticismos: mas o real El Bulli deixa? mas tem lá jeito cozinhar à distância? mas quem perde tempo a fritar sardinhas quando tem cozinha molecular para tratar?... Saia do encontro com ar esperançoso e diga: "Alea jacta est", ou qualquer outra coisa que não se entenda. Espere que o El Bulli se pronuncie. E quando ele fizer um manguito desconstruído, ponha ar de quem fez tudo que estava ao seu alcance. Contrate o primeiro que lhe apareça, com toda a tranquilidade.

Wednesday, September 08, 2010

Mau Humor Vítreo

São as Miodesopsias e as Fotopsias que agora me andam a apoquentar. Quanto à selecção, está no seu melhor, empate (4-4) com o Chipre e derrota (0-1) com a Noruega, tudo potências do futebol...

Tuesday, August 17, 2010

Fim de estação

Na primeira jornada do campeonato o Sporting e o Benfica perderam e o Porto ganhou (após a vitória sobre o Benfica na supertaça). Tudo normal portanto. O Jesus já não sabe de que cor há-de pintar o cabelo.

Friday, May 21, 2010

Então estamos assim

Escutar com as orelhas d'outro?!

por FERREIRA FERNANDES no DN 2010-05-21

Então estamos assim: as escutas existem, Pacheco Pereira (PP) ouviu-as. Tal como já outros disseram: "Deus existe, eu vi-o!" Mas estes dizem-no para afirmar a sua fé, não na presunção disso ser uma prova da existência de Deus. Eles viram-no e acreditam por isso. Não presumem que por eles o terem visto, a Deus, eu seja obrigado a acreditar na existência dele. Já PP vai mais longe, quer-me envolver na epifania dele. Ele viu o morto, a bala, a pólvora e a pistola e, por causa disso, eu também sou obrigado a gritar para prender o mordomo. Pois eu digo que não. Não vejo, não acredito. Repito-me, de crónicas passadas: se Sócrates gamou, prendam-no. Quem de direito, que o prenda. Mas em sendo incapazes, esses magistrados que já deviam ter prendido Sócrates se ele foi criminoso não contem comigo para cúmplice da impotência deles. Não, não debico o milho que me atiram, milho a milho sem eu ver o filme todo. Nem o milho dos magistrados, nem agora PP que diz "eu ouvi", mas não pode dizer exactamente o quê porque não o deixam. E quem não deixa? Mota Amaral: "A Constituição não permite o uso de escutas a não ser em processo penal." Ah, sim? E a Constituição só foi inventada depois de PP ter ido espreitar? Eu vou dizer exactamente o que vejo: magistrados e políticos como baratas tontas. E, o que me chateia mais, a tomarem-me por tonto.